segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Uma questão de fé


Quantas vezes, ao enfrentar situações críticas, você já ouviu aquele amargo conselho:
“É preciso ter fé!”. Eu, muitas. Aprendi — e concordo plenamente — que “o justo vive pela fé”; mas, aqui entre nós, é difícil viver pela fé. Como é difícil esperar e confiar, sem que a dúvida nos atormente, em meio à dor da perda de alguém que amamos, à injustiça, à rejeição, à solidão, à hostilidade, à negação e a tantas outras situações de sofrimento.
É interessante como nos confrontamos com a teoria — “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” — e percebemos que a prática não é tão exata e previsível como, não raro, gostaríamos que fosse.
O fato é que não sabemos lidar com o sofrimento. Invariavelmente começamos a questionar: por que eu? Por que Deus não muda esta situação? Será que Deus ouve minhas orações? Quem nunca questionou ou pensou, nem que por um breve momento, que Deus não o ouviu ou estivesse de fato presente? Será que nunca perdemos, nem mesmo por um instante, “a certeza daquilo que esperamos”? É difícil esperar pelo tempo de Deus? Sem dúvida.
E isso não é prerrogativa nossa, deste nosso tempo de imediatismos, do aqui e agora. A Bíblia traz exemplos de fatos ocorridos há milhares de anos. É o caso de Sara, que pela fé deu à luz, mas não sem antes rir da promessa do anjo do Senhor. Embora sua mente conhecesse o poder e o caráter de Deus, seu coração, por momentos, vacilou.
Quando tudo vai bem, concedemos o crédito a nossa fé “inabalável”. Entretanto, quando nem tudo vai bem, quando as coisas não acontecem do jeito que queríamos ou gostaríamos, ela talvez não seja tão inabalável.
Às vezes desanimamos, nos surpreendemos “rindo” tristemente. Afirmamos acreditar que Deus nunca nos abandonará porque ele, que não é homem para mentir, nos prometeu que estará conosco até o final dos tempos; que cuidará de nós e que tudo fará para o bem dos que o amarem até o fim. O coração, porém, apesar de saber que Deus tem um propósito e o controle de tudo, cambaleia, vulnerável a nossa fragilidade e insignificância. Como, então, viver pela fé num mundo que se entregou aos encantos da auto-suficiência? A resposta que encontrei é que Deus conhece minhas fraquezas e meus limites.
Mais que isso. Ele me ama apesar do que sou e não deseja que nos deixemos atormentar pela culpa quando em alguns momentos esmorecemos ou duvidamos, quando choramos em desespero ou gritamos angustiados.
Se isso acontece também com você, bem-vindo à realidade. Até Jesus angustiou-se a ponto de suar sangue. Você chamaria isso de falta de fé? Esmorecimento momentâneo não significa falta de fé! Significa, sim, que a condição humana nos torna frágeis e suscetíveis a nossas carências; que precisamos de um relacionamento íntimo com Deus, visando a depender mais e mais dele, confiar em seu amor, em sua misericórdia e, acima de tudo, em seu perdão.
A aparente falta de fé não é o fim. E, sim, apenas o começo de tudo.